terça-feira, 9 de setembro de 2008

O Mar e o Cometa

As dunas brancas e os verdes mares salgados do Ceará são parte presente das minhas lembranças mais remotas. Meus pais até hoje frequentam assíduos o litoral; e quando eu tinha uns quatro anos, lembro vagamente da imagem do mar e a luz forte do sol pela manhã cedinho na beira da praia. Nós íamos sempre muito cedo. Minha irmã tinha pouco mais de 1 ano e era preciso bem protegê-la do sol. Papai a cobria com uma caixa grande de papel fotográfico P&B, tamanho 50x60cm. Como ele era fotógrafo, aquelas embalagens eram o que mais eu via lá por casa. Era o ano de 1974. Nas periferias e interiores cearenses ainda reinava a fotografia preto e branca. Meu pai ganhava o pão fotografando e revelando pôsteres gigantes em P&B. As poses eram as mais inacreditáveis possíveis; maria-chiquinhas, vestidos estampados, cavalinhos e muita maquiagem para um sorriso na posteridade. Mais tarde quando vi pela primeira vez, no laboratório escuro com luz vermelha, ele revelando aquelas imagens, fiquei maravilhado.
Mas, voltando ao litoral. Como meu pai viajava muito em seu trabalho, a família também saía bastante do Estado do Ceará, sempre para cidades menores. Então estávamos em uma cidadezinha litorânea próximo a Natal, no Rio Grande do Norte. Era domingo e de repente eu me ví num castelo enorme e assustador(depois que eu voltei lá, já mais velho, o castelo tinha diminuído bastante), mas pensei: encontrei minha fortaleza para defender o mundo dos piores vilões da face da terra; ou então aquele seria o 'Forte Apache' dos meus sonhos que nunca tinha ganhado do Papai Noel no natal. Bom, de qualquer forma, eu era apenas um menino bobo que queria ser um super-herói, certo!
O castelo que vi era na verdade o forte de Ponta Negra, até hoje um dos principais pontos turísticos dos nossos vizinhos potiguas.
De uma forma ou de outra, aquele foi um domingo como nunca tinha tido, apesar de ter chorado muito quando não me subiram na torre de comando, de onde eu iria dar as ordens de ataque. A foto do choro está lá pela casa de minha mãe até hoje. Eu só de cueca, do lado do meu irmão, com o braço na cara e a boca de berreiro perto do mirante mais alto apontado para o mar sem poder subir.
Nessa época nós estávamos morando num hotelzinho não sei de que bairro de Natal, que naquele tempo ainda era uma cidadezinha. Durante a semana, eu ficava em casa; e escolhi minha janela preferida. A mais alta. Eu colocava uma cadeira perto dela, subia e dizia pra minha mãe: vou fazer uma 'canta', 'Lé, lá,Lé, lá,Lé, lá,Lé, lá,'. A bem da verdade, disso eu não lembro bem, mas quem contou foi minha mãe.
Do que eu lembro mesmo daquela época é do mar e do cometa. Não sei onde foi que ouvi falar que por aqueles tempos no céu estava passando um cometa. Só sei que depois que soube que existia isso no céu, além das estrelas, uma luz passando com calda comprida e fazendo clarão; depois que fiquei sabendo disso, então passei a esperar com mais ansiedade a noite chegar; subia no banquinho perto da janela e apontava: “O coneta, o coneta”. Falava meio enrolado e minha perguntava: 'é o que? A canta?”. E eu respondia; “não, não, o coneta, o coneta”... Via o tal cometa em toda parte do céu.
Não sei se este é o texto ideal para se por num blog de memórias remotas, mas sei que para mim essa fase deve ter sido importante para surgir em mim o músico e o astrônomo amadores que existem na minha história. Faltou só inspiração pra contar bem contado. Quem sabe depois reescrevo melhor. É que depois de três meses sem dar continuidade aos textos, estou enferrujado. Fica o registro. tchau

Um comentário:

Márcio Chocorosqui disse...

Eis aí. Vasculhando a Internet achei o teu blog. Histórias de quando menino via cometas...
Como vai aí na ponta extrema do Brasil? Convido para acessar o meu blog. Grande abraço!