segunda-feira, 19 de maio de 2008

Doce mistério das mulheres

Continuando a falar das historinhas remotas de minha infância irada no Ceará, lembrei do nascimento da minha irmã. Quer dizer, na verdade eu não lembro de nada, as pessoas é que foram me contando depois e eu assimilei de tanto ouvir.
Bom, no início da década de 1970, éramos apenas eu e meu irmão. Eu iria completar três anos. De repente, da barriga da minha mãe saí uma outra pessoa.
Não pode ser. Mas como é que pode? Como é que é isso? De onde foi que ela veio? E ainda por cima ela não tem pinto? Êpa! Não tem pinto?
Pois é! Eu com quase três anos de idade fiquei perplexo ao ver pela primeira vez na vida uma xoxota. Fiquei chocado mesmo. Como é que pode? Não era pra ela ter uma pinta também não? Afinal, eu tinha uma, então todo mundo deveria ter também.
O pior não foi a minha perplexidade. Pior foi que depois daquele dia, em que vi minha irmã pela primeira vez e constatei que ela não tinha pinta, depois daquele dia eu passei a perguntar pra todo mundo, que via pela frente, se tinha ou não pinta.
Um vez chegou uma visita pro meu pai. Todo mundo bem sério na sala falando de trabalho, aí no meio da conversa o cabeção perguntava: ei tu também tem pinta tem? Rãn rãn rãn rãn rãn!!! essas crianças de hoje!!
Na escolinha foi só chegar na sala: professora a senhora tem pinta? Porque a minha irmã nasceu e ela não tem pinta não, oh! Até na igreja, na hora da missa, tinha uma menina do meu tamanho querendo brincar debaixo dos bancos. Eu engatinhei por entre as pernas dos fiéis, cheguei perto dela: tu tem pinta ou é barata? É barata, é? Então como é que tu faz xixi?
Eu acho que foi dessa mesma forma de questionamento infantil que Freud desenvolveu a teoria da inveja do pênis. Imagine as meninas que vêem seus irmãos nascerem com pintos. Depois olham pra si mesmas e acham que tá faltando um pedaço nelas. O homem não. Acha que tem a mais e está na vantagem. Olha aqui menininha, muito legal oh! Sabia que ela fica dura de manhã pra gente fazer xixi?
Na frente da casa de minha vó, no bairro do Pici (próximo a antiga base aérea americana da Segunda Grande Guerra) tinha um muro baixo. Eu vivia ali nos fins de tarde, quando conseguia fugir dos cuidados de quem estivesse me pastorando pra não traquinar ou fazer alguma arte de menino danado. Parado no muro pra ver o movimento. De repente vejo aquela moça já bem crescida vindo pela rua, caminhando pela calçada, requebrando com roupinha curta, as pernas de fora, duas pêras debaixo da blusa, hum! Não deu outra. Perguntei na hora. Na lata! Ei, tu tem pinta? Ela assustou-se, Ãhn? Coisinha linda (da cabeça grande)! Tenho não, fofinho, por quê? tu tem? Ela perguntou apertando minhas bochechas. Tenho sim, oh aqui, ó!
Não é que eu baixei a calça ali mesmo e mostrei pra ela, assim na maior naturalidade, orgulhoso do pinto. Eu com apenas três anos. Era quase final do ano de 1973. Depois, foi ela que saiu contando a história pra todo mundo no bairro. Acho que isso só ocorreu naquele tempo porque estávamos em plena ditadura militar e eu, muito curioso, ainda tinha muito a aprender sobre as mulheres.

2 comentários:

Walquíria Raizer disse...

valber, perdoe a demora na resposta. estou tentando organizar a vida. o ritmo está frenético.
catraiarecords@gmail.com
manda email pra eles.
ou um email pra mim no walraizer@gmail.com
que te mando os telefones.
bjs.

Válber Lima disse...

Obrigado, Walquíria!