quinta-feira, 15 de maio de 2008

Matô!!!!

Tem um episódio, para mim muito relevante, que aconteceu logo que nasci. Já que estou dedicando este blog as minhas lembranças mais remotas, não posso deixar de escrever sobre isso aqui. É uma historinha que durante muito tempo me serviu como aprendizado sobre vários aspectos. Até hoje falo dela quando estou tratando sobre relacionamentos de qualquer tipo. Na verdade tem a ver com a inveja. A inveja boa e a má. Em primeiro lugar, todo mundo tem inveja. É um sentimento presente na humanidade, não é de hoje. Cain matou Abel, por inveja. E o meu irmão, com menos de dois anos, quis me matar também. Calma, mais foi de brincadeirinha. Mas tentou. Por quê? Não, não foi por inveja, mas foi por ciúme, um outro sentimento bem próximo da inveja.
Ocorre que meu irmão era filho único, até eu nascer. Tinha uma mãe só para ele. Tinha todas as tias e tios para paparicá-lo e todos os bilu-bilus que quisesse só pra ele, já que também não havia primos na família. Quando eu nasci, ele se sentiu naturalmente ameaçado. Esqueceram dele, e aquela mãe que era só pra ele (quer dizer, ele já tinha que dividir com o papai, mas era diferente) de repente estava agarrada com o tal novo menino cabeçudo, que não largava o peito dela. Todo mundo trocou os bilu-bilus que eram exclusivamente pra ele, e passaram a dirigi-los exclusivamente para mim. Foi de mais pro coitado. Então sabe o que ele fez? Advinha! Coisa de criança. Pegou um pedaço de pau, e vindo de repente de algum lugar que não se sabe de onde (já que ninguém mais quase não olhava para ele mesmo) e disse: Matô!!! tacou o pau no cabeção. Pode?
Acho que foi fraco, eu devo ter me assustado, mas pela forma com que depois a história virou folclore lá em casa, eu acho que na hora virou piada. A reação de todos foi de descontração com a atitude engraçada do irmão mais velho enciumado por ter que a partir daquele momento dividir tudo que tinha e todos com um novo personagem da família, eu, o Valbão.
Bom, de qualquer forma, a atitude dele não exatamente foi por inveja. foi por ciúme. Ciúme principalmente da atenção da mãe e dos outros. Mas se poderia aqui interpretá-la também por inveja. Inveja do que ele achava que eu tinha e ele não tinha mais. Ou, inveja de algo que ele não queria que ninguém mais tivesse, fora ele. O fato é que, se ele tivesse me matado, quem teria morrido seria ele. Percebi isso depois, porque com o passar do tempo eu comecei a sentir inveja dele também. Mas eu não tentei assassiná-lo. Se tivesse, estaria tentando contra minha própria vida. Sabe por quê? Porque toda vez que eu sentia inveja dele, a inveja era boa e me ajudava a crescer. Se o meu irmão aprendesse algo que eu não soubesse fazer, eu, com inveja, crescia mais um pouco na vida tentando superá-lo. Acredito que ele também fez isso, porque quando eu conseguia passar dele, por exemplo, aprendendo novas músicas mais difíceis de tocar no violão, ele também mudava de atitude a se dedicava mais à música para me superar e me fazer mais inveja. Assim, foi uma inveja boa que nos salvou. Na escola também disputamos. E esta disputa nos salvou.
Ou seja, parafraseando Nietzsch, a inveja que não nos mata, nos faz crescer para a vida. E a inveja que nos faz tentar destruir os outros, na verdade destrói a nós mesmos. Né não?

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